Seis anos depois da estreia de “Run” (2014), o realizador costa-marfinense Philippe Lacôte está de volta com “A Noite dos Reis” (La Nuit des Rois), um drama transgressivo e com uma estética cativante que oferece interessantes reflexões sociológicas e intelectuais ao invocar o folclore altamente detalhado e simbólico.
A trama acompanha a chegada de um jovem (Bakary Koné) à prisão de La Maca, nas profundezas de uma floresta fora da cidade de Abidjan, na Costa do Marfim, que é governada pelas suas próprias regras e onde os prisioneiros são os verdadeiros governantes. A agressividade dos reclusos é muito contundente e o jovem imediatamente teme pela sua vida.
O líder é Barba Negra (Steve Tientcheu), mas está doente e demasiado fraco fisicamente para reinar, afigurando-se Lass (Abdoul Karim Konaté) como um potencial substituto. De forma a manter-se no poder, Barba Negra designa-o como o novo Roman – Contador de Histórias, que durante a noite de Lua Vermelha, terá de cativar os prisioneiros e evitar uma guerra de transição de poder à força no presídio.
Percebendo o destino que o espera, o jovem começa a narrar a vida mística do lendário bandido a quem chamam Zama King, um assassino e um ídolo para o resto dos presos, não tendo alternativa senão fazer durar a história até ao amanhecer. A noite avança, o perigo é constante. E a imaginação e a criatividade transbordam.
“A Noite dos Reis” é também o título de uma das obras de Shakespeare,o que significa que o filme pode ser resumido como uma luta de poder e como um ritual praticado pelo coletivo dentro de um microcosmos da sociedade alojada sob a opressão do estado, e uma poderosa demonstração do poder transportador e libertador da narrativa.
Exibido em estreia mundial no Festival de Veneza, o filme foi apresentado em vários outros festivais internacionais incluindo Toronto, Nova Iorque e mais recentemente em Sundance. “A Noite dos Reis” estreia nos cinemas nacionais a 5 de agosto.