“A Zona de Interesse” (The Zone of Interest), do realizador britânico Jonathan Glazer, é um dos filmes que ninguém pode perder nos cinemas portugueses. A muito aguardada estreia está marcada para a próxima quinta-feira, dia 18 de janeiro, com distribuição da Alambique Filmes.
Estreado no Festival de Cannes 2023, onde recebeu o Grande Prémio do certame, o filme é protagonizado por um solene Christian Friedel, ao lado de uma maravilhosa Sandra Hüller que, curiosamente, também é uma das estrelas de outro filme que está em destaque nesta temporada de prémios, “A Anatomia de Uma Queda”.

Baseado no aclamado livro homónimo de Martin Amis, o filme conta a história do comandante de Auschwitz, Rudolf Höss (Friedel), e da sua mulher, Hedwig (Hüller), que se esforçam para construir uma vida de sonho para a sua família numa vivenda ajardinada na Zona de Interesse, uma expressão usada pelos SS nazis, para designar o perímetro de 40 quilómetros quadrados à volta do campo de concentração de Auschwitz, habitado por militares e civis do lado alemão.
Apesar do espetador ser poupado das cenas da monstruosa desumanidade, o que se vê no filme ainda é Auschwitz. Enquanto as mulheres fofocam sobre assuntos triviais, as crianças, em vez de brinquedos, brincam com uma coleção de dentes de ouro, ignorando o fumo que sai das chaminés do outro lado da parede. Já as conversas dos homens centram-se em quanto tempo leva para queimar 700 judeus por dia e eliminar as cinzas.
Fresco, original, profundamente perturbador e filmado no próprio local, o filme de Glazer, que propõe um olhar implacável sobre a humanidade e a banalidade do mal, com um retrato arrojado e ousado da família Höss, está ainda na corrida ao Óscar de Melhor Filme Internacional como representante do Reino Unido.

“O que eu quis foi filmar o contraste que existe entre alguém que serve um café na sua cozinha e alguém a ser assassinado do outro lado do muro. A coexistência desses dois extremos. Pesquisei durante dois anos, antes de começar a escrever. Tivemos investigadores a trabalhar no Auschwitz-Birkenau Museum e no Memorial (…) Eu não quis sentir que estava a fazer um filme sobre aquele período para depois o colocar num museu. Falamos, sem dúvida, do pior período da história humana e não podemos dizer que já não tem nada que ver connosco. É evidente que tem. Quis continuar a olhar para o tema com um olhar moderno”, disse Jonathan Glazer.
Assista ao trailer legendado de “A Zona de Interesse”, um retrato arrepiante de cumplicidade, que nenhum cinéfilo em Portugal deve perder.